Hoje é o Dia Mundial e Dia Nacional da Síndrome de Down. Dia de falar sobre inclusão que, aliás, é direito previsto pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD da ONU), considerando que “todos devem ter as mesmas oportunidades, participar das mesmas atividades, poder ir aos mesmos lugares e desfrutar das mesmas experiências na vida”.
A conscientização passa por diversos pontos, dentre eles a noção de que pessoas com Síndrome de Down necessitam de acompanhamento médico mais frequente e intenso por toda a vida, além de atendimento multidisciplinar por psicólogos, fonoaudiólogos e profissionais afins. Tudo isso ajuda essas pessoas a se desenvolverem, fortalecendo sua autoestima, senso de pertencimento e ajudando-as na qualificação para o mercado de trabalho.
Aliás, será que o mercado de trabalho está realmente preparado para a inclusão? Como preparar as empresas – e a sociedade como um todo – para essa inclusão? Primeiramente, pelo esclarecimento. “Precisamos desconstruir alguns conceitos”, aponta Caio Cesar Rodrigues de Toledo, do Instituto Inclua. Um conceito que precisa ser sepultado é a subestimação da capacidade e aptidão de pessoas com deficiência.
Aliás, há exemplos de pessoas com síndrome de Down que obtiveram êxito em diversas áreas. O norte-americano Ezra Roy formou-se em Belas Artes pela Texas Southern University. O israelense Elad Gevandschnaider se alistou voluntariamente no serviço militar de seu país (e o completou em 2013), além de ser tenista medalhista. Emmanuel Bishop é violonista, nadador, golfista e falante de quatro idiomas. Além de brilharem no mundo do entretenimento, as brasileiras Vitória Mesquita e Tathi Piancastelli atuam em outras áreas: a primeira é digital influencer e autora de livro, ao passo que a segunda é atriz e palestrante da ONU.
Quebra de preconceitos
Estamos no século 21, época que exige a revisão de paradigmas e quebra de preconceitos. “Com o suporte necessário, pessoas com SD podem desenvolver autonomia, serem muito produtivas e trazer ótimos resultados para as empresas”, diz Caio Toledo. Gabriel, psicólogo e responsável pela área INCLUO – inclusão no mercado de trabalho e estímulo ao empreendedorismo do Instituto Mano Down, destaca que as empresas precisam ser abertas e flexíveis no sentido de aceitarem pessoas diferentes em suas jornadas.
A importância da família
Há pais e familiares de pessoas com síndrome de Down que ficam receosos com a possibilidade dos filhos trabalharem fora de casa e terem uma vida mais independente. “Muitas famílias não conseguem enxergar seus filhos dentro do mercado de trabalho convencional”, diz Gabriel. Diante disso, o psicólogo ressalta que é preciso criar perspectivas para que pais e filhos sejam acolhidos e se sintam seguros frente às oportunidades. Para que isso aconteça, o Instituto Mano Down trabalha o conceito de empregabilidade com base na sensibilização e na orientação.
Capacitação para o mercado de trabalho
“Trabalhamos as habilidades da pessoa com deficiência ante a competência”, ressalta Gabriel. No Instituto Mano Down, pontos como atendimento ao cliente, cursos de bolo e de recepção, o contexto e o cotidiano das empresas, hierarquia, salário, expediente, tempo de almoço e outros conceitos básicos tão relevantes para ingressar no mercado de trabalho, sempre em vista dos diferentes perfis de empresas e demandas, são ensinados.
Processo seletivo, contratação e adaptação
O Instituto Mano Down participa do processo seletivo que busca contratar pessoas com síndrome de Down junto ao RH das empresas. A orientação é fazer uma pergunta de cada vez, o que ajuda a evitar dupla interpretação, dúvidas e outros ruídos. Gabriel destaca que na integração do colaborador, o Instituto ajuda a treiná-lo e adaptá-lo para o cargo. Já a chefia e os colegas podem ajudar na tradução de conceitos muito específicos para uma linguagem mais simples e acessível, ajudando a melhorar a comunicação entre todos os colaboradores.
Oferta e demanda de mão de obra
Ainda existem lacunas na maioria das empresas de médio e grande porte no Brasil como um todo, conforme destaca Gabriel, sendo necessário aproximar as vagas das pessoas que existem. Em Belo Horizonte, existem pessoas com deficiência intelectual capacitadas que não conseguem colocação justamente pelo perfil do posto de trabalho e pela falta de abertura das empresas. Por outro lado, o Instituto reconhece que há oportunidades para auxiliares administrativos e recepcionistas, ou seja, cargos que lidam com o atendimento ao público. Enfim, para inserir e adaptar um colaborador dentro de uma empresa é preciso, antes de tudo, levar em conta sua singularidade.